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“Tentei me aproveitar da situação, tirar dinheiro” – ENTREVISTA ISMAEL BONETTO – Réu pela morte da contadora Sandra Mara Lovis Trentin

Ismael Bonetto, 22 anos, chegou a confessar ter matado Sandra Mara Lovis Trentin, 48 anos, com um tiro no peito. Disse isso quando foi preso em Lages (SC), em fevereiro de 2018. Contou que cometeu o crime a mando do marido dela, o vereador de Boa Vista das Missões, Paulo Ivan Landfeldt. Em um segundo depoimento, voltou atrás e negou.

 

 

Na sexta-feira, o réu, que segue preso em Palmeira das Missões, falou com a reportagem de ZH. Algemado e em silêncio, foi conduzido das galerias onde permanecem os presos até uma sala, no fundo de um corredor, na área administrativa do presídio. Entrou acompanhado do defensor, Antônio Augusto Korsack Filho. Devido ao pouco espaço, o administrador da cadeia, Lairton Primaz, acompanhou a entrevista encostado na parede. Sentado em uma das três cadeiras, Bonneto manteve a cabeça baixa em boa parte das respostas. Natural de Vicente Dutra, diz que trabalhava em construções antes de ser preso e, à reportagem, voltou a negar envolvimento na morte de Sandra. Passou quase um ano e manteve a versão de que inventou a história apenas para extorquir o marido dela.

Na segunda-feira passada, uma ossada foi encontrada. Na sexta-feira à noite, a Polícia Civil confirmou que se trata dos restos mortais da contadora. A descoberta da ossada motivou a defesa a solicitar que o acusado fosse solto, pedido negado pela Justiça na sexta-feira. Os investigadores informaram que orifício na blusa da vítima indicava que ela teria sido morta com um tiro no peito, o que é compatível com o primeiro depoimento do réu. O marido de Sandra alega que foi extorquido e que não tem envolvimento no crime. Bonetto responde, além de homicídio e ocultação de cadáver, pela extorsão. Com a confirmação de que a ossada é de Sandra, o processo deverá receber complementações, já que defesa e acusação usaram argumentos que envolvem o fato do cadáver não ter sido localizado.

Você está preso há quase um ano e é acusado de ter matado e escondido o corpo da Sandra. Tem envolvimento?

Tentei me aproveitar da situação para extorquir, tirar dinheiro dele, dizer que sabia o que tinha acontecido. Tudo que falei é uma bobagem. Quando me pegaram em Santa Catarina, a polícia disse que a minha mulher, que estava grávida, ia ser presa. Falei que se deixasse ela lá e viesse só eu, falava a verdade. Inventei aquilo para a guria ficar lá. Não queria ver meu filho nascer e ficar longe de mim. Se fosse preciso falar 500 vezes aquilo para ver ela e meu filho bem, falaria. Por causa de uma bobagem que fiz. Eu estava mal, fui extorquir o cara e dizer que sabia o que tinha acontecido.

E como ficou sabendo do sumiço?

Surgiu por tudo, no Facebook. Bombou.

E decidiu extorquir Landfeldt em que momento?

Já tinham se passado uns 15 ou 20 dias. Eu estava mal e botei na ideia isso de extorquir ele.

Decidiu extorquir, mas o que fez?

Procurei ele. Nem conhecia. Inventei que sabia o que tinha acontecido.

Como procurou Paulo?

Em casa. Fui cedinho na casa dele.

Saiu de Vicente Dutra (onde ele morava) para ir a Boa Vista das Missões?

É. No outro dia que procurei ele de manhã. Daí pousei lá no pai.

Sabia onde ele morava?

Não. Pedi informação.

E o que falou? Lembra como foi?

Falei que sabia o que tinha acontecido. Disse que naquele momento não podia falar comigo, mas era para esperar ao meio-dia, em algum lugar. Eu falei “te espero lá no trevo” porque é o trevo perto de onde mora o pai. Daí, ele foi lá para conversarmos. Queria que falasse oque tinha acontecido, e pedi dinheiro. Ele não queria me dar.

Quanto pediu?

Eu tinha pedido R$ 2 mil. Ele disse “só tenho R$ 1 mil aqui no bolso, só que tu tem de falar pra mim o que aconteceu com ela”.

E aí, como foi?

Inventei uma história. Disse “de tardezinha vem aqui no mesmo lugar”. Só que daí não fui lá esperar para levar ele no lugar. Não sabia o que tinha acontecido, estava inventando. Quando tirei dinheiro dele, vazei e fui para Lages. Daí ele me procurava, me ligava, para saber o que tinha acontecido com ela, porque eu já estava em Lages.

E quanto ele lhe deu em dinheiro?

Parece que R$ 9 mil.

Parece ou foi?

Foi R$ 9 mil (Paulo diz que deu R$ 2 mil).

Como Landfeldt te pagou?

Ele me deu R$ 1 mil. Depois, numa segunda vez, me entregou mais e depois me depositou mais R$ 1 mil, quando eu estava em Lages. Fechou R$ 9 mil.

Landfeldt diz que você fez ameaças para a família dele por mensagens. Fez?

Ameaça para a família, não. Nem conhecia a família dele. Como eu ia ameaçar? Nem ameacei.

E esse primeiro depoimento que diz que Landfeldt teria mandado matar a Sandra, inventou?

Inventei tudo na hora, foi uma invenção.

O seu defensor me disse que lhe informou sobre a localização de uma ossada que pode ser da Sandra. O que pensa que isso pode impactar no processo?

Aí não posso dizer nada nessa parte para a senhora… (após a entrevista, a Polícia Civil confirmou que se trata de Sandra).

Quantas vezes falou com Landfeldt?

Pessoalmente, só duas vezes. Depois, por telefone.

Ele dizia que queria informação dela?

Queria saber o que tinha acontecido. Como eu não sabia, ficava só enrolando ele. Daí, me mandei para Lages.

E por que ir para Lages?

Eu estava mal, sem serviço, tinha um irmão que tinha me arranjado trabalho, mas iam colocar outro no lugar, aí fui.

Landfeldt chegou a ficar preso no mesmo período que você. Tiveram contato?

Não, ele não estava na galeria. Ele estava numa sala de aula (o presídio não tem cela especial para presos com curso superior).

Você e Landfeldt são acusados do mesmo crime, mas ele está em liberdade. O que pensa disso?

É difícil de acreditar, mas não fiz nada para essa mulher. Eu tô preso porque entrei numa bobagem de fazer extorsão para tirar dinheiro. Tô preso inocente, não participei de nada. A única coisa que participei foi da extorsão, que tentei inventar para ele. Não sei se ele deve ou não, não posso dizer.

Nesse primeiro depoimento, segundo a polícia, você disse que teria dado um tiro no peito dela. Eles dizem que coincide com essa ossada…

Defensor Antônio Augusto Korsack Filho interrompe:

“Não é verdade. O furo que eles alegam que tem na camisa é um rasgo atrás. Tive acesso ao processo. Não é verdade. Está descrito ali como um orifício atrás, então não coincide. Gostaria que adicionasse que a defesa está atenta a esse detalhe. O orifício é na parte de trás e é um rasgo”.

Para dar detalhes de local e como teria matado, você se baseou em quê?

Inventei isso tudo aí. Inventei. Tudo da minha cabeça, do que tinha ouvido falar.

Os crimes dos quais o estão acusando são graves. Em caso de condenação, podem lhe deixar muitos anos na cadeia.O que pensa sobre isso?

Não tem o que fazer, preso já tô. Uma hora vai ter de sair por limpo a verdade. Não importa se leve cinco ou 10 anos. Daí eles vão ver que é verdade. Fugir, não vou. Vou ficar aí. Mas uma hora sai por limpo, pode ter certeza.

Tem mais alguma coisa que queira falar sobre o caso?

A única coisa que tenho para falar é que aquele local que eles falam que levei eles (para mostrar onde estaria o corpo de Sandra) nasci e me criei lá. A gente pescava lá. Aquilo foi tudo invenção da minha cabeça. Não tinha nada a ver aquele local.

E como está a tua vida nesse um ano?

Está difícil, nem conheço a minha filha, nasceu e é complicado. Só o pai velho lá de cima para saber. Por causa de uma besteira, que fui inventar para extorquir o cara, tornou tudo isso aí para minha vida.

 

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