Reconhecimento, valor e recompensa

Por Oscar Bessi – Correio do Povo

Não foi por reconhecimento. Não foi por recompensa. Os policiais militares que estavam de serviço na madrugada de 07 de junho de 2025, na pequena Nonoai, no Noroeste gaúcho, tinham apenas um objetivo: cumprir a missão. Derrubar mais uma pedra nesse tabuleiro invisível que é a luta constante do bem contra o mal, na segurança pública, uma guerra constante que poucos percebem, mas que atinge a todos. Provocar mais um prejuízo e dar outro duro golpe nessa gente que lucra e cresce a base mortes e violências. Fazer valer a lei. É o que querem os bons policiais, todos os dias. E, ainda que o serviço de inteligência da Brigada Militar tenha realizado um trabalho fantástico e levantado dados sobre a movimentação do tráfico de drogas na região, talvez esses policiais nem sonhassem que sua ação, naquela noite, entraria para a história como a maior apreensão de drogas já realizada por uma força policial a no Rio Grande do Sul. Foram 07 toneladas de drogas. E o tombo pesado num esquema internacional de tráfico de entorpecentes.

O Comando-geral da Brigada Militar chamou, na última quarta-feira, 19 de junho (apenas duas semanas depois), todos os envolvidos ao QG, em Porto Alegre, para homenagear esses guerreiros e sua ação histórica. Outro momento histórico. E eu me coloco na pele dos policiais que se viram reconhecidos pelas mais altas autoridades da corporação e receberam, das mãos do Coronel Cláudio Feoli, a materialização deste agradecimento que a instituição faz aos seus integrantes que honraram sua farda, seu compromisso, o povo que juraram defender. Talvez pouca gente se dê conta, mas a esmagadora maioria dos integrantes da Brigada Militar, principalmente os que servem nas cidades mais distantes, tem raras ou nenhuma chance de conhecer um dos quartéis mais bonitos do estado, situado num prédio repleto de história no Centro Histórico da capital. E talvez o que também não se saiba é que a esmagadora maioria dos policiais, seja aqui, no Brasil, ou em qualquer lugar do mundo, não vê suas grandes ações diárias serem reconhecidas, nem pelos seus superiores e muito menos pela sociedade que defendem. E também não ligam muito para isso, acostumados que estão.

Quem conhece o atual comando da Brigada, como eu conheço, não se surpreende com esta atitude. Até por não ser a primeira. Verdade, os policiais que estavam de serviço na ação histórica daquela noite, em Nonoai, só pensaram em cumprir a sua missão. Não calcularam, antes, se valia a pena agir só para ter repercussão. Como todos os dias e noites policiais dão xeque-mate no crime, sabendo muito bem que o jogo não acabou e nem vai acabar tão cedo. Mas um dos fatores que mais incomoda os policiais, em qualquer lugar, afora as falhas do sistema de persecução penal, é a falta de reconhecimento por tudo que fazem. Por tudo que arriscam em nome da defesa de uma sociedade que, não raro, lhes vira as costas em momentos difíceis. Não há ser humano que não goste de um gesto de carinho. E reconhecer, agradecer, é um carinho gigante. Ainda mais para quem arriscou a vida. Mesmo que tenha sido feito tudo apenas por fé no que é certo. E por um amor gigante ao seu ofício de servir e proteger.

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