BRASÍLIA – A campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enfrenta ataques de evangélicos nos cultos e nas redes sociais. Depois de uma ação movida pelo PT contra o pastor José Wellington Costa Junior, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), líderes de várias denominações começaram a usar os templos para criticar o PT. Diante de fiéis, José Wellington chegou a chamar Lula de “laço do diabo”, referindo-se a ele apenas como “o outro candidato”.
Os atos que motivaram a ofensiva no tribunal ocorreram durante visita de Bolsonaro a Cuiabá (MT), no último dia 19, quando ele participou do lançamento da Marcha para Jesus, com motociata e carreata, e, à noite, de um culto promovido pela CGADB. Bolsonaro e Sóstenes também são alvos da representação encaminhada ao TSE.
O contra-ataque de líderes evangélicos preocupa aliados de Lula no momento em que ele tem sido criticado por declarações polêmicas, como a defesa do aborto, e a campanha petista prepara um podcast para evangélicos, a ser lançado no próximo dia 17. Em conversas reservadas, dirigentes do PT dizem que a ação contra José Wellington foi um tiro no pé.
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, afirmou, por sua vez, que a representação encaminhada ao TSE “não é contra um pastor”, mas, sim, contra a propaganda eleitoral antecipada. “Vamos proceder dessa maneira sempre que alguém cometer abusos, independentemente de ser religioso, político ou de qualquer outra condição”, avisou a deputada.
O eleitorado evangélico representa 30% da população e, de acordo com pesquisas de intenção de voto, Bolsonaro tem ampla maioria de votos neste segmento. Agora, o comando da campanha à reeleição decidiu investir na imagem da primeira-dama Michelle Bolsonaro para atrair o voto feminino.
O pastor José Wellington Costa Júnior cumprimenta Jair Bolsonaro após culto em São Paulo; maior convenção da Assembleia de Deus declarou apoio à reeleição do presidente.
Michelle chegou a participar de um culto promovido pela Frente Parlamentar Evangélica, na Câmara, nesta quarta-feira, 4. De joelhos, chorou e pediu a intercessão de Deus para “curar” o Brasil. “Achei ótimo o que o PT fez contra nós porque conseguiu deixar todos revoltados. É de se aplaudir”, ironizou o deputado Sóstenes, que comanda a bancada evangélica.
Inferno
Maior instituição de pastores do País, a CGADB abriga 12 deputados e três senadores. “Alguns pastores ainda vêm trazer proposta do PT, pedir para que (a gente) receba outro candidato. Não cabe. O inferno não tem como entrar em lugar santo”, disse José Wellington em reunião de obreiros nesta segunda-feira, 2.
Ao lado do pai, José Wellington Bezerra da Costa, um dos líderes mais influentes da Assembleia de Deus no Brasil, o presidente da CGADB avisou os pastores que eles poderiam ser procurados “sorrateiramente” por dirigentes petistas. Mesmo sem citar o nome de Lula, pediu que ninguém recebesse o candidato do PT. “É laço do diabo”, definiu. “Não adianta ficar em cima do muro, não. Ou é ou não é. Ou somos pelos preceitos morais, ou somos contra o aborto, ou somos contra a miséria que estão pregando aí, essa ideologia de gênero, ou nós vamos colocar a nossa posição diante do Senhor Jesus e da Igreja de Deus.”
Bezerra da Costa, pai de José Wellington, classificou o PT como “Partido das Trevas” e disse não ser possível aceitar o discurso de um candidato “a favor do aborto”. No mês passado, Lula tentou contornar a declaração sobre a interrupção da gravidez, após reações negativas. Argumentou que, pessoalmente, é contra o aborto, mas defendeu tratamento pela rede pública de saúde.
Em vídeo postado nas redes sociais, o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, afirmou que há uma “perseguição” contra os pastores. “Vocês já viram alguém processar Lula, prefeito ou governador do PT porque foi em culto evangélico e recebeu oração? Claro que não”, protestou Malafaia.
Estratégia
Nos últimos dias, Lula também escalou o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), vice em sua chapa, para ajudar na tentativa de aproximação com os evangélicos. Ao receber apoio do Solidariedade, nesta terça-feira, 3, o ex-presidente mencionou várias vezes a palavra “cristão”, expondo a nova estratégia. “Ninguém de nós que é cristão pode dormir tranquilo sabendo que tem criança dormindo com fome, adulto na fila para pegar osso”, comentou o ex-presidente.
Apesar do apoio a Bolsonaro, José Wellington e seu pai já foram próximos de Lula e da então presidente Dilma Rousseff. “Eu não conheço a fala do meu amigo José Wellington, mas eu não entraria com uma ação assim. Não sei se isso soma. Se tem alguém excedendo, isso pode ser denunciado”, avaliou o deputado Luiz Fernando Teixeira (PT), primeiro secretário da Assembleia Legislativa de São Paulo.
Estadão