Arquivo Pessoal / ReproduçãoSandra sumiu na manhã de 30 de janeiro, quando saiu de Boa Vista das Missões para ir à cidade vizinhaArquivo Pessoal / Reprodução


Quase cinco meses após o desaparecimento de Sandra Mara Lovis Trentin, 49 anos, a segunda audiência do caso será realizada nesta terça-feira (26) em Palmeira das Missões, na Região Noroeste. Devem ser ouvidas 13 testemunhas, parte deles por videoconferência. O marido dela, vereador Paulo Ivan Baptista Landfeldt, 48 anos, e Ismael Bonetto, 22 anos, presos e acusados de terem assassinado a mulher, também podem ser interrogados na sessão, prevista para iniciar às 10h.

Sandra desapareceu em 30 de janeiro, após deixar o escritório que mantinha em sociedade com o marido em Boa Vista das Missões para ir até a cidade vizinha. A caminhonete Ranger que a contadora dirigia foi localizada abandonada em Palmeira das Missões algumas horas depois. A mulher nunca mais foi encontrada.

Para a acusação, ela foi raptada e morta por Bonetto, a mando do vereador. O corpo da contadora, no entanto, não foi localizado. O Ministério Público (MP) acusou Landfeldt de ter mandado matar a mulher porque queria o fim do casamento sem a necessidade de partilha do patrimônio do casal e sem a disputa pela guarda dos filhos. O casal estaria vivendo um relacionamento conturbado.

Quando foi localizado pela polícia, Bonetto chegou a confessar o crime, mas foi preso e acabou mudando a versão. Ele segue no Presídio de Palmeira das Missões. Landfeldt, que era presidente da Câmara de Vereadores de Boa Vista das Missões, afirma que foi extorquido pelo jovem e nega o crime. Ele foi transferido para o Complexo Penitenciário de Canoas (Pecan), por conta do direito de permanecer em cela especial.

André Ávila / Agencia RBSLandfeldt falou em entrevista sobre desaparecimento dias antes de ser presoAndré Ávila / Agencia RBS


Diferente da primeira audiência, segundo a defesa do vereador, ele participará da sessão nesta terça-feira e pretende falar, caso os réus possam ser ouvidos na sessão — as testemunhas precisam ser ouvidas antes deles.

— Na primeira audiência, entendemos que não havia necessidade de ele se deslocar de Canoas até aqui. Sabíamos que ele não seria ouvido. Dessa vez, como acreditamos que a instrução pode ser concluída, ele vai participar e vai falar porque está sendo vítima de um erro de investigação — afirmou o advogado Breno Francisco Ferigollo.

Bonetto também deverá participar da audiência e, segundo a defensoria, falará sobre o caso, se os réus forem ouvidos.

— Acreditamos na inocência e que vamos conseguir provar que ele não participou de qualquer tipo de ação em relação aos fatos. Acabou entrando nessa história por um erro dele. Um erro que ele reconhece. Há uma grande falta de provas por parte da acusação — argumentou o defensor público Antônio Augusto Korsack Filho.

Os dois foram denunciados pelo MP por homicídio qualificado, por motivo torpe, mediante pagamento de recompensa, recurso que dificultou a defesa da vítima e feminicídio, além de ocultação de cadáver. Bonetto ainda responde por ter extorquido o vereador. O promotor Marcos Eduardo Rauber afirmou que não se manifestará sobre os depoimentos das testemunhas até o momento para não prejudicar o desempenho da acusação.

Como está o caso

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Câmera flagrou momento que contadora sai de casa para ir ao escritório na manhã do sumiçoReprodução / Reprodução

Na primeira sessão, no dia 7 de junho, 22 pessoas falaram sobre o caso. Outros familiares de Sandra e dos réus, que residem em cidades como São LeopoldoCruz AltaFrederico Westphalen e Vicente Dutra, devem ser ouvidos nesta terça-feira. Para agilizar as oitivas, os depoimentos ocorrerão por videoconferência. Na tarde desta segunda-feira (25), um parente da contadora será ouvido, em Rodeio Bonito.

Com a conclusão da instrução, a defesa e o MP terão prazo para se manifestar e, após, o juiz produzirá a sentença na qual definirá se os réus serão pronunciados pelos crimes dos quais são acusados. Eles também podem ser inocentados ou o crime pode ser desclassificado. Caso sejam pronunciados pelo homicídio, vão a júri popular.

O desaparecimento

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Ranger que Sandra dirigia foi periciada em fevereiro em busca de vestígios de crimeAndré Ávila / Agencia RBS

Sandra saiu de casa na manhã de 30 de janeiro para ir ao escritório que mantinha em sociedade com o marido, a poucos metros da residência. Depois seguiu para Palmeira das Missões, onde costumava resolver pendências do trabalho. Disse às funcionárias que retornaria cerca de duas horas depois, embarcou na Ranger da família, e nunca mais voltou.

O veículo foi encontrado abandonado na cidade vizinha. O celular de Sandra desapareceu. No início da investigação, os policiais não descartavam que a mulher pudesse ter sumido de forma voluntária. Intrigava a polícia, no entanto, o fato de ela ter deixado três filhas – uma adolescente e as outras duas, crianças. Os familiares relatavam que ela era uma mãe zelosa. O fato de a contadora nunca mais ter feito contato com os familiares leva a Promotoria a acreditar que ela esteja morta.

Jovem confessou crime, mas mudou versão

Em 21 de fevereiro, três semanas após o registro do desaparecimento, o marido dela procurou a polícia para afirmar que estava sendo extorquido por um rapaz, que afirmava estar com a contadora. Dois dias depois, este mesmo jovem foi preso em Lages, Santa Catarina. A prisão mudou os rumos da investigação.

Bonetto confessou à polícia que tinha sequestrado e assassinado com dois tiros a contadora, a mando do marido dela. O rapaz afirmou ainda que tinha escondido o corpo de Sandra em uma área rural, em Vicente Dutra. Chegou a levar os policiais até uma mata, mas nada foi encontrado.

No mesmo dia em que Bonetto confessou o crime, o marido de Sandra foi preso. Uma semana após a prisão, no entanto, em um novo depoimento, o rapaz voltou atrás e disse que mentiu sobre ter assassinado a contadora a mando do vereador. Contou que ficou sabendo do desaparecimento por uma vizinha e que decidiu extorquir Landfeldt, mentindo que estava com Sandra. Mas não soube explicar porque disse à polícia que havia matado a mulher. A Polícia Civil entendeu, no entanto, que a primeira versão apresentada pelo jovem preso era a mais próxima do que aconteceu com a contadora e indiciou os dois.