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“FIZ PARA PROTEGER O PRESIDENTE”

Em entrevista exclusiva, advogado diz que escondeu Fabrício Queiroz ao descobrir que havia uma trama para matar o ex-policial e responsabilizar Bolsonaro pelo crime.

Desde a prisão do policial aposentado Fabrício Queiroz, no último dia 18, o advogado Frederick Wassef perdeu o sono. Dono da casa em Atibaia onde o amigo de Jair Bolsonaro e faz-tudo do senador Flávio Bolsonaro foi detido, Wassef passa as noites em claro, trocando mensagens de texto por meio de dois aparelhos celulares dos quais não desgruda por nada. Durante o dia, alterna lampejos de euforia com mergulhos em momentos de depressão, nos quais sua verborragia incontida dá lugar a rápidas pausas — dramáticas, quase cênicas — para respiração. “Entrei em modo guerra. Quando isso acontece, viro o diabo”, disse ao receber VEJA na quarta-feira 24.

Hoje, a guerra dele parece perdida. Ao dar guarida a Queiroz, suspeito de ser laranja da família Bolsonaro, Wassef se viu obrigado a deixar a defesa formal de Flávio Bolsonaro no caso que apura um esquema de rachadinha no antigo gabinete do Zero Um na Assembleia Legislativa do Rio. Viu-se obrigado também a parar de declarar aos quatro cantos que é advogado de Jair Bolsonaro. Agora, quando perguntado sobre o assunto, silencia. A perda dessas credenciais, que lhe garantiam acesso aos palácios e prestígio, foi acompanhada de uma agravante: o risco de ser alcançado por uma medida judicial por tentar coagir ou controlar testemunhas.

A pessoas próximas, Wassef disse que se preparou para receber a visita da polícia. Curiosamente, enquanto essa preocupação o atormentava, chegou a se refugiar num hotel

em São Paulo, para, conforme contou a amigos, fugir do assédio da imprensa. Mesmo com toda a exposição decorrente da prisão de Queiroz, o advogado alega que não fez nada de ilegal. Para ele, seu gesto deveria ser objeto de elogio, não de reprimenda. Sua tese é a seguinte: ao providenciar um esconderijo ao ex-policial, ele impediu que Queiroz, que estaria jurado de morte por “forças ocultas”, fosse assassinado. Além de salvar uma vida, evitou que a eventual morte fosse debitada na conta da família Bolsonaro, como uma ação de queima de arquivo. “O MP e a Justiça do Rio deveriam me agradecer por proteger uma testemunha importante.”

Não é fácil acreditar em todas as respostas de Wassef. Ele jura que não é o “anjo” que deu nome à operação que prendeu Queiroz e garante também que não contou aos Bolsonaro sobre o refúgio dado ao ex-policial. Afirma que após a prisão conversou com o presidente e o senador para explicar suas razões. Pediu desculpa pelo “erro”, mas ressaltou que agiu para protegê-los. O advogado não faz uma queixa aberta a seus antigos patrões, mas nos últimos dias foi tomado por reflexões sobre traição e lealdade. Acossado, descobriu-se só. Numa de suas pausas dramáticas, arriscou, num pensamento alto sobre manifestações públicas de apoio que esperava e não recebeu: “Não se deveria virar as costas para antigos aliados”.

Por que o senhor decidiu esconder o Queiroz? Eu sou um sobrevivente de quatro cânceres e soube o que estava passando o senhor Fabrício Queiroz. Isso me sensibilizou

“Eu nunca contei ao presidente Bolsonaro. Quando eu puder dizer os motivos, vocês vão me entender e vão me dar razão. Então eu assumi um risco de fazer isso porque eu sei o que é melhor para o filho dele”

muito. Imaginava aquele cidadão sendo torturado psicológica e emocionalmente, sofrendo um assédio terrível. O presidente Bolsonaro simplesmente cortou contato ou relação com Fabrício Queiroz. Da mesma forma, o senador Flávio Bolsonaro se distanciou completamente. E eu imaginei o que seria para aquela pessoa. De repente, não está mais com os seus amigos, doente e assediada. Não podendo andar na rua, não podendo ter uma vida normal.

Foi, então, por aquilo que o senhor chamou de questão

humanitária? O que posso dizer, limitado pelo sigilo profissional, é o seguinte: eu sabia que ele precisava vir a São Paulo se tratar. Precisava ter um local para ficar. Ele não podia ficar em um hotel, em pousada ou nada do gênero. Então, por uma questão humanitária, eu fiz chegar ao conhecimento dele que podia ficar em uma de minhas propriedades. Ofereci três opções: a casa em Atibaia, uma em São Paulo e outra no litoral.

O senhor ofereceu essa ajuda ou ela lhe foi pedida? Essa pergunta também envolve questão de sigilo, mas vou dizer o seguinte: eu apenas fiz chegar ao conhecimento dele que, caso necessitasse, estaria disponível um local para que pudesse ficar durante um momento tão difícil e conturbado que é um tratamento de câncer. Meu objetivo foi tão somente conceder um espaço para que uma pessoa não viesse a morrer. Sempre houve um distanciamento entre nós.

O senhor nunca falou com o Queiroz? Eu não vou me manifestar sobre isso agora. Na época dos fatos, eu mantive um distanciamento máximo dele. Não tinha o telefone dele. Não permiti que ele tivesse o meu telefone. Nunca liguei para ele nem para os familiares dele. Nunca ele e seus familiares ligaram para mim. Não havia contato de nenhuma natureza telefônica.

Nem para agradecer a sua ajuda? Não. Eu apenas consenti que ele pudesse ficar em algumas dessas propriedades para que pudesse ter tranquilidade. Estou com a consciência tranquila.

Especialistas dizem que o senhor pode ter praticado

um crime. Naquela época, Fabrício Queiroz era, como ainda é, um investigado. Ele não era indiciado. Ele não era denunciado. Ele não é réu na ação penal. Ele não era uma testemunha. E eu ainda não estava atuando como advogado do Flávio. Eu fiz uma coisa, em princípio, 100% humanitária. Depois, descobri que ajudei a salvar a vida dele de outra maneira.

Como assim? Passei a ter informações de que Fabrício Queiroz seria assassinado. O que estou falando aqui é absolutamente real. Eu tinha a minha mais absoluta convicção de que ele seria executado no Rio de Janeiro. Além de terem chegado a mim essas informações, eu tive certeza ab

“Havia um plano traçado para assassinar Fabrício Queiroz e dizer que foi a família Bolsonaro que o matou em uma suposta queima de arquivo para evitar uma delação”

soluta de que quem estivesse por trás desse homicídio, dessa execução, iria colocar isso na conta da família Bolsonaro. Havia um plano traçado para assassinar Fabrício Queiroz e dizer que foi a família Bolsonaro que o matou em uma suposta queima de arquivo para evitar uma delação.

Quem teria interesse em assassinar Fabrício Queiroz?

Eu tive informações absolutamente procedentes e formei a minha convicção de que iriam matar Queiroz e iriam colocar a culpa no presidente Bolsonaro para fazer um inferno da vida dele. Na verdade, seria uma fraude. Algo parecido com o que tentaram fazer no caso Marielle, com aquela história do porteiro que mentiu.

O senhor, então, alega que agiu para defender o presidente?

Agi no regular exercício da advocacia. Eu era advogado do Flávio, hoje não sou mais. Naquele momento, meu entendimento é que eu queria evitar que Fabrício Queiroz fosse executado em uma simulação qualquer ou mesmo que sumissem com o seu cadáver.

O senhor contou isso ao presidente ou ao senador Flávio?

Não. Eu omiti isso do presidente. Eu omiti do Flávio por motivos que me reservo ao direito de não dizer agora. O presidente da República jamais teve conhecimento da autorização para que o Fabrício, caso quisesse, pudesse estar nessas propriedades.

Quanto tempo ele passou em Atibaia?

Eu sei que teve vez que ele ficou uma semana e foi embora. Teve vez que ele ficou um mês e foi embora. Teve vez que ele ficou dois meses e foi embora. E teve vez, como recentemente, que ele foi para o Rio de Janeiro e ficou um mês e meio. A prisão dele ocorreu na quinta-feira passada. Antes de ele ser preso, ele esteve no Rio de Janeiro.

O senhor disse que nunca falou desse caso com o presidente. Como, então, ele disse numa live no dia da prisão que o Queiroz estava lá fazendo um tratamento?

Eu não sei como o presidente ficou sabendo. Mas eu digo o seguinte: os senhores mesmos da revista VEJA publicaram uma matéria do Fabrício Queiroz operado não tem muito tempo. Várias fontes podem ter dito isso.

Afinal, o senhor é o “anjo” citado nas investigações?

Nunca alguém me chamou de anjo. Nunca o presidente Bolsonaro me chamou de anjo e duvido que ele chamou alguém de anjo na vida. Ninguém na família Bolsonaro me chamou de anjo e eu nunca tive apelido de anjo. Agora, se alguém inventou isso, eu não sei.

O senhor já deu alguma ajuda financeira ao Queiroz?

Nunca. Jamais. Eu não ajudei ninguém financeiramente. Essa ilação que estão tentando fazer para dizer que houve uma ajuda ou patrocínio é mentira. O meu objetivo único

“Os senhores sabem o que aconteceu no dia da prisão do Fabrício Queiroz?

Foi o início do processo de impeachment do governador do Rio de Janeiro. Uma curiosa coincidência”

era preservar aquela vida para que ela pudesse servir ao Poder Judiciário do Rio de Janeiro, ao Ministério Público e aos meus interesses enquanto advogado do senador Flávio Bolsonaro. É o mais absoluto, perfeito e regular exercício da advocacia.

Depois do ocorrido, o senhor conversou com o presidente?

No dia da prisão, eu telefonei para o presidente Bolsonaro, ele me atendeu. Eu pedi muitas desculpas. Falei: “Presidente, não tenho como te explicar agora por telefone. Eu estou muito triste por tudo o que aconteceu, eu lhe peço desculpas por ter omitido isso”.

O presidente aceitou as desculpas?

Ele ficou bastante descontente com a minha atitude. Pedi desculpas. Não podia falar mais, me estender mais. Falei que em algum momento ia explicar toda a história. Quando ocorreu a prisão do Fabrício Queiroz, entendi o que ia acontecer na minha vida. Entendi que ia virar alvo de todos os inimigos do governo, do presidente Bolsonaro, de toda a esquerda. Eu sabia que eu seria usado pelos inimigos para atacar o presidente Bolsonaro. Então decidi deixar o caso. O Flávio insistiu para que eu não deixasse, mas eu disse que se eu continuasse, iria prejudicá-los.

O senhor acha que o Fabrício Queiroz é inocente?

Esse processo tramita em segredo de Justiça e eu não posso me

manifestar, é questão de sigilo. Mas eu não vi provas contundentes, eu não vi elementos para oferecimento de denúncia, eu não vi nada de crime ali. Para cada ato que dizem que é crime, eu tenho dez para dizer que não é. Movimentação financeira atípica não é crime, tudo o que falaram do Flávio Bolsonaro não é crime.

E sobre Fabrício Queiroz?

Chama atenção a operação hollywoodiana para prender Queiroz, um homem que estava num dia lá abalado, deprimido, doente. Se chegasse um escoteiro, levava ele preso, ele não ia reagir. Se fosse um soldado da polícia militar sozinho, ele ia se render. Me chama atenção o aparato que foi deslocado. Dez viaturas, grupo de operações especiais, fuzil, metralhadora na mão, helicóptero. E como o helicóptero da imprensa sabia e chegou ao mesmo tempo? Essa operação midiática, hollywoodiana, de guerra, para levar um cara doente, que teve três cirurgias, estava em tratamento, estava naquela região para ver médico e ter consulta. Vocês não acham que é um pouco demais? E a operação para pegar Márcia (esposa do Queiroz)? Estão caçando uma mãe, uma mulher de quem ninguém sabe nada.

O senhor sabe onde ela está?

Não tenho ideia. Eu só vou dizer o seguinte: a única coisa que se tem contra Márcia é que ela tirava dinheiro da conta dela e passava para o marido. Há muita coisa nesse caso que ainda precisa ser devidamente esclarecida.

“Adriano tinha ficha limpa e respondia a um processo criminal que, pelo que eu apurei, é uma fraude. As forças ocultas do Rio de Janeiro decretaram a prisão dele e o executaram”

O que, por exemplo?

Os senhores lembram quando foi a busca e apreensão no Rio de Janeiro? Foi nessa busca, em dezembro, que as autoridades pegaram os telefones da mulher do Fabrício. Desde então, o Ministério Público já sabia que ele estava em Atibaia há muito tempo. Os senhores sabem o que aconteceu no dia da prisão do Fabrício Queiroz? Foi o início do processo de impeachment do governador do Rio de Janeiro. Uma curiosa coincidência. O que chega para mim é que essa operação hollywoodiana nada mais foi do que uma cortina de fumaça para desviar a atenção do impeachment do governador, com a participação especial do governo de São Paulo.

O senhor, então, está dizendo que houve uma conspiração dos governadores Wilson Witzel e João Doria?

Não há dúvida e é público que ambos os governadores permanentemente confrontam o presidente Bolsonaro. Mas não vou entrar em detalhes aqui. Eu só estou dizendo que eu, enquanto advogado, me desculpem, pergunto: qual o objetivo de prender o Fabrício Queiroz? Ele estava ameaçando alguém?

O senhor agiu para proteger o presidente Bolsonaro?

Na verdade, eu prestei um favor ao Poder Judiciário do Rio de Janeiro e ao Ministério Público do Rio de Janeiro porque hoje eu acredito que, se Queiroz não estivesse num lugar mais tranquilo, eu acho que hoje ele não estaria vivo. E o

“Estão caçando uma mãe, uma mulher de quem ninguém sabe nada. A única coisa que se tem contra Márcia é que ela tirava dinheiro da conta dela e passava para o marido”

presidente Bolsonaro ou a família Bolsonaro estariam sendo investigados por um suposto assassinato. Uma fraude, como já disse, parecida com aquela da Marielle ou do Adriano da Nóbrega.

Qual é o paralelo entre o assassinato da vereadora Marielle e o de Adriano da Nóbrega com esse caso?

Tentaram criminosamente envolver o presidente em ambos. Fala-se sobre esse tal de Adriano como um miliciano. Adriano tinha ficha limpa e respondia a um processo criminal que, pelo que eu apurei, é uma fraude. As forças ocultas do Rio de Janeiro decretaram a prisão dele e o executaram. Ele não foi morto em uma troca de tiros com a polícia da Bahia. Isso foi uma farsa, uma mentira. Ele foi pego vivo. Torturaram, quebraram suas costelas, bateram em sua cabeça.

É difícil acreditar que o senhor nunca tenha falado com o presidente sobre o Queiroz.

Eu lhe garanto que eu nunca contei ao presidente Bolsonaro. Quando eu puder dizer os motivos, vocês vão me entender e vão me dar razão. É uma questão de segurança. Fiz para proteger o Flávio. Fiz para me proteger. Fiz para proteger o presidente. Então eu assumi um risco de fazer isso porque eu sei o que é melhor para o filho dele.

Devido aos desdobramentos, não teme que esse episódio o afaste definitivamente da família Bolsonaro?

Zero de preocupação. Quando tomei a decisão de deixar o caso, a família Bolsonaro quis que eu ficasse. O Flávio queria que eu ficasse. Eles conhecem o meu trabalho, a minha integridade, honestidade e competência. E acima de tudo eu sou leal e não traio ninguém nunca. Outra coisa: nunca entrei nisso por dinheiro, por cargo, por ajuda de qualquer tipo ou natureza. O que me aproximou do Bolsonaro foi o inconformismo. Eu amo o presidente.

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