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Escutas mostram como agia grupo que sequestrava e extorquia no RS

Ação envolveu 70 policiais e foi realizada na manhã desta quinta-feira (4).

Quadrilhas realizavam sequestros em Porto Alegre e Região Metropolitana.

 

Cristine GallisaDa RBS TV

 


 
Polícia prendeu suspeitos de extorsão mediante sequestro (Foto: Divulgação/Polícia Civil)Polícia prendeu suspeitos de extorsão mediante

sequestro (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Escutas obtidas pela polícia mostram como agia a quadrilha que realizava sequestros no Vale do Sinos. Dezesseis pessoas foram presas na manhã desta quinta-feira (4), durante a operação da Delegacia de Roubos de Porto Alegre. Em todos os casos acompanhados, as vítimas foram libertadas com vida. A polícia conseguiu evitar o pagamento dos resgates e até recuperar o dinheiro que já havia sido pago.

Participaram da ação 70 policiais, que cumpriram 18 mandados de prisão e 13 de busca e apreensão na Região Metropolitana de Porto Alegre. Durante meses, a polícia monitorou a ação por meio de escutas e ajudou as famílias nas negociações. Uma família, porém, não conseguiu evitar o pagamento de R$ 40 mil aos criminosos.

As investigações apontam o envolvimento dos presos nesta quinta em pelo menos 10 casos de extorsão mediante sequestro realizados este ano. O alvo das quadrilhas eram empresários, comerciantes e gerentes de banco. O delegado responsável pelas investigações, Joel Wagner, diz que parte das ações era coordenada de dentro das cadeias. Dois presos, inclusive, cumpriam pena por roubo de cargas no regime semiaberto em São Leopoldo.

“Nos sequestros de funcionários de bancos temos uma ação mais rápida, muitas vezes até com o pagamento de quantias maiores. Já a extorsão mediante sequestro praticada contra empresários e seus familiares é uma ação que demanda uma logística maior, um número maior de integrantes, um tempo maior para negociação e um cativeiro", explicou o delegado.

Em um dos áudios obtidos pela reportagem da RBS TV, o suspeito ameaça funcionários de uma das vítima. O caso ocoreu em Sapucaia do Sul. A mulher do empresário foi sequestrada e acabou solta. Mesmo assim, eles continuaram extorquindo e ameaçando a familia.

Sequestrador: É só largar o dinheiro e nós vamos largar vocês de mão. Entendeu?

Vítima: Eu sei. É tudo que eu quero, eu quero tentar resolver a situação. Mas é que não tem como pegar dinheiro.

Sequestrador: Escuta o que eu vou te falar, ó. A partir de agora, a partir da semana que vem nós vamos pegar um funcionário teu ali na saída. Nós vamos pegar e encher de tiro, tá?

Vítima: Não faz isso, não faz isso…

O homem dá um prazo à vítima, que afirma não ter o dinheiro necessário.

Sequestrador: É na semana que vem. A semana que vem fecha tudo, fecha tudo.

Vítima: Não faz isso, homem de Deus.

Sequestrador: Eu vou te dar até amanhã, meio-dia, para botar o dinheiro para fora. Se não pagar até amanhã, meio-dia, eu vou encher tudo de tiro. É contigo, é contigo!

Sequestrador: Tu vai ter até terça-feira para correr esse dinheiro. Entendeu?

Vítima: Mas eu não tenho da onde tirar, meu Deus. Você pegou a pessoa errada. Eu não tenho.

Sequestrador: Então nós vamos pegar o resto da tua família, amigão. Os teus filhos. Corre!

Outro caso registrado em março deste ano mostra que um empresário teve a filha e a mulher sequestradas depois de uma tentativa de assalto frustrada à residência. Os bandidos exigiam R$ 50 mil.

Sequestrador: Qual é que é? Está de pegadinha?

Vítima: Não estou, cara. Bah, cara, pelo amor de Deus.

Sequestrador: Está de pegadinha, sim, teu telefone está indo direto para a polícia

Vítima: Como é que é?

Sequestrador: Está indo direto para polícia teu telefone, rapaz

Vítima: Não tá nada. Estou sozinho aqui. Pelo amor de Deus, vamos resolver isso.

Sequestrador: Tu está correndo atrás de dinheiro onde, rapaz?

Vítima: Estou correndo atrás dos meus contatos. Não estou conseguindo. Não deu nada certo.

A vítima conseguiu contato telefônico com a família depois de garantir ter uma quantia para entregar aos sequestradores. O suspeito, porém, não estava satisfeito com o valor.

Vítima: Eu consegui mais cinco aqui no banco. Tenho 15 [mil] aqui.

Sequestrador: Nós queremos aquele valor, viu?

Vítima: Tá, cara. Eu estou correndo atrás, estou batalhando. Como é que elas estão? Quero falar com elas.

Sequestrador: Arruma 50 para entregar hoje. Até o final de semana nós pegamos o resto. Vamos largas elas hoje.

Vítima: Deixa eu falar com elas, pelo amor de Deus.



Uma das escutas ainda revela que as ordens partiam também de um preso do regime fechado. Nas ligações telefônicas, ele orientava os comparsas do lado de fora através de conversas em código numérico. A polícia conseguiu decifrar o código e evitou dois sequestros, um de um empresário e outro de um gerente de banco.

O dinheiro obtido com o pagamento dos resgates era usado, segundo o delegado, para o financiamento de outros crimes, principalmente o tráfico de drogas

“É um fato confirmado pelo último sequestro, em Dois Irmãos [cidade], onde o cativeiro foi feito em uma boca de fumo. As pessoas que ali estavam, que realizaram o sequestro, eram traficantes. O motivo pelo qual sequestraram a vítima era o de fomentar sua atividade fim, que era o trafico de drogas. Da mesma maneira as quadrilhas bem organizadas que tem uma estrutura maior, tem talvez o intuito de adquirir armamentos para praticar ação mais audaciosa”, completa Wagner.

No primeiro semestre deste ano, segundo estatísticas da Secretaria da Segurança Pública, foram registrados 19 casos de extorsão mediante sequestro em todo o estado, 10 a mais que no mesmo período do ano passado.

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