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Entrevista com OSVALDO BARALDI, Presidente do Hospital Bom Pastor

 

 

“Do jeito que a situação está não descarto o fechamento do hospital Bom Pastor. Mas, não é por má gestão, e sim por falta de compreensão dos governantes”, disse o presidente.

 

 Decidido em assembleia geral, os 118 funcionários do Hospital Bom Pastor de Santo Augusto entraram em greve a partir do dia 25 de junho, por tempo indeterminado. O motivo da paralização foi o atraso no pagamento dos salários relativos ao mês de maio e a falta de recursos e material para procedimentos e medicamentos para os pacientes, motivados pelos atrasos nos repasses por parte do governo do Estado. Foram mantidos apenas os serviços de urgência e emergência, além de atendimentos dos pacientes que já estavam internados. Paliativamente, a Câmara de Vereadores e a Prefeitura Municipal, conjuntamente, destinaram, nesta terça-feira (30), recursos financeiros num montante de R$ 152 mil ao hospital, permitindo amenizar a situação e, consequentemente, o retorno à normalidade dos trabalhos na instituição de saúde a partir desta quarta-feira (01/07). Para falar sobre a situação caótica que se encontra o hospital, seu presidente Osvaldo Baraldi concedeu a seguinte entrevista:

 

Os funcionários entraram em greve e os serviços, exceto os de emergência, foram suspensos. O que levou a essa situação?

Foi a falta de repasse, por parte do governo do Estado, dos valores contratados. Em 16 de setembro de 2014, nós assinamos um contrato no valor global mensal de R$ 299.000,00, mas em maio recebemos apenas R$ 95.000,00. Desse valor, assim que creditado na conta, o banco descontou R$ 24.000,00 referentes à parcela de um empréstimo contraído pelo hospital. Então, sobraram pouco mais de R$ 71.000,00, o que possibilitou o pagamento de apenas 50% da folha salarial do mês de maio.  

 

Qual é o montante, mês a mês, que o hospital tem em haver do Estado?

Em relação ao que nós temos contratado, o Estado tem deixado de nos repassar entre R$ 60.000,00 e R$ 70.000,00 a cada mês, isso desde o mês de janeiro, o que já totaliza cerca de R$ 400 mil.

 

E referente aos meses de outubro e novembro/2014?

Referente ao ano passado, o governo estadual deixou de repassar e, portanto, está devendo ao hospital Bom Pastor, os repasses relativos aos incentivos dos meses de outubro e novembro, cujo incentivo foi criado pelo governo anterior para completar os 12% que o Estado tem que aplicar na saúde. Mas, segundo cálculos da Federação das Santas Casas, o valor aplicado pelo Estado em saúde, na verdade, nunca chegou a 12%, tendo alcançado pouco mais de 10%.

 

Qual o valor desses dois meses que não foram repassados pelo governo Tarso?

Entre o IHOSP e mais prestação de serviços que nós tivemos no hospital, o Estado ficou nos devendo R$ 488.000,00 referentes ao ano passado.

 

E referente ao ano em curso?

No momento, o atraso do governo do Estado é referente ao mês de maio, cujo repasse deveria ter ocorrido até dia 5 do mês subsequente, o que não ocorreu. Mas, como já comentado, o Estado tem deixado de repassar mensalmente, desde janeiro, de R$ 60.000,00 a R$ 70.000,00 referente ao valor contratado. Então, considerando o passado e o presente, nós temos a receber do Estado mais de R$ 800.000,00.

  

Qual o valor que o Município repassa e para cobrir que tipo de despesas?

Pelo convênio firmado, o Município repassa em torno de R$ 36.000,00 ao hospital, em forma de subvenção. Com esse valor, podemos pagar contas de luz, água, telefone, gêneros alimentícios, material de higienização, compra de medicamentos e o que houver de maior necessidade. E, parte desse valor é destinada ao pagamento do sobreaviso médico nos períodos em que o posto de saúde se encontra fechado. 

 

Qual o número de funcionários do hospital Bom Pastor?

O hospital tem 118 funcionários, número que está de acordo com o que o hospital necessita em termos de mão-de-obra.

 

Qual o valor mensal da folha de pagamento?

Gira em torno de R$ 153.000,000 a R$ 155.000,00 mensais, sem os encargos de INSS e Fundo de Garantia.

 

Valor atual da dívida do hospital

Segundo levantamento que fizemos, o hospital deve hoje, somando empréstimos e o que temos a pagar a longo prazo, em torno de R$ 1.600.000,00 e R$ 1.800.000,00.

 

Alguma dívida vencida, fora a folha dos funcionários?

Não. Todos os empréstimos que fizemos, eu e a administradora Nilza, junto com a minha esposa, que assinou de avalista, Dilson Moresco e a sua esposa, nós fizemos um empréstimo de R$ 700.000,00 e essas prestações estão sendo a cada mês quitadas, sem atraso.

 

E os fornecedores?

Vários fornecedores estão em atraso e, como não temos como pagar em dia, alguns títulos estão sendo protestados em Cartório. Essa situação tem deixado a direção do hospital em uma tensão muito grande, porque, quando acabar a greve e voltar a funcionar, poderá não ter medicamentos suficientes ou mesmo material para o corpo clínico atuar no centro cirúrgico, o que acabará acarretando uma nova paralisação no atendimento.

 

Como fica a situação do hospital caso os repasses atrasados não sejam pagos pelo Estado?

A situação fica bem complicada. Há notícias de que talvez neste mês de julho já ocorra o pagamento. Por outro lado, já se tem ventilado, segundo notícia trazida pelo Amauri Lampert, presidente da Hospinoroeste, que está previsto para os meses de novembro e dezembro o governo não ter mais qualquer recurso pra repassar aos hospitais.

 

Perspectiva de solução para o problema

Não sei dizer. Até um tempo atrás, quando chegava a notícia de que o Estado não repassaria as verbas, nós fazíamos empréstimos e, com isso, o governo acabou se acomodando, porque sabia que as direções dos hospitais resolveriam a situação. Só que agora não há mais possibilidade de contrairmos empréstimos devido ao risco cada vez maior para os gestores, que respondem como avalistas, caso não se possa fazer os pagamentos.

 

Há risco de fechar o hospital?

Do jeito que está a situação, eu não descarto. E quero ser bem objetivo: não é por má gestão e sim por falta de compreensão dos governantes, porque não se administra um hospital sem recursos. Nós, até agora, levamos fazendo empréstimos, deixando o governo no comodismo, resolvendo o problema do governo e comprometendo o pouco que nós temos em uma coisa que não é nossa e nem dos funcionários, mas de uma comunidade e de uma abrangência de mais de quarenta municípios que vêm a Santo Augusto em busca de atendimento.

 

 A Câmara de Vereadores e a Prefeitura têm demonstrado algum empenho para solução ou pelo menos amenizar o problema?

Nós estivemos ontem na sessão da Câmara junto com os funcionários e, segundo dito pelo presidente Horácio, há em torno de R$ 180.000,00 de verba não utilizada que poderia ser devolvida à Prefeitura, para que ela a repassasse ao Hospital Bom Pastor, só que isso envolve um trâmite um pouco longo e seria apenas um paliativo, bom por um tempo, mas que não resolveria o problema a longo prazo.

 

E uma campanha para empresários e produtores rurais adotarem o hospital, contribuindo de forma permanente.

Nós já pensamos nessa hipótese. Mas se trata de um hospital público com administração privada, um comodato por 20 anos em que o Município não quis se envolver na administração, que tem verbas a receber por serviços prestados conforme ajustado em contrato com o Estado. Por isso, não vejo por que a comunidade, o cidadão santoaugustense tenha que participar novamente, ajudar a solucionar o problema do hospital. Bastaria o Estado pagar o que deve.

 

A responsabilidade do Município se esgota na contribuição mensal que já realiza?

Nós vamos continuar sendo parceiros do Município, dialogando com a Prefeitura e a Câmara, pleiteando pelo reajuste dessa contribuição, mas temos conhecimento das dificuldades enfrentadas pelo Município, que também teve redução nos repasses que recebia, algo em torno de R$ 300.000,00, segundo se sabe.

 

 

Poderes Legislativo e Executivo Municipal acodem o Bom Pastor

 

                       Horácio Dorneles – Presidente da Câmara     José Luiz Andrighetto – Prefeito

 

O Poder Legislativo de Santo Augusto, segundo seu presidente Horácio Dorneles, não ficou alheio à problemática enfrentada pelo Hospital Bom Pastor. Horácio se diz sensibilizado e buscou, juntamente com seus pares, apresentar e oferecer uma ajuda financeira, para o que, a fim de ser repassado a título de doação ao hospital, devolveu ao Poder Executivo o montante de R$ 80 mil.

Já, o Prefeito Municipal, José Luiz Andrighetto, da mesma forma, sensibilizado, conjuntamente com o vice-prefeito e equipe técnica decidiu por fazer o adiantamento do valor mensal que é de R$ 36 mil, antecipando os repasses ao hospital referentes aos meses de julho e agosto. Com a medida, a Câmara de Vereadores e a Prefeitura resolveram, pelo menos momentaneamente a situação, permitindo que a greve dos funcionários do hospital fosse suspensa e os serviços voltassem à normalidade a partir desta quarta-feira (01/07).

 

Funcionários do Hospital Bom Pastor suspendem a greve

 

Graças ao aporte financeiro feito através da Câmara de Vereadores e pela Prefeitura Municipal ao hospital Bom Pastor, permitindo o pagamento da folha do mês de maio, os funcionários da instituição de saúde que estavam em greve desde o dia 25 de junho, retornaram às atividades normais na manhã desta quarta-feira (1/07).

Porém, através da Comissão Representativa do Movimento dos Servidores, formada por Oldinei Barcellos, Vanderlei Rodrigues de Moura, José Claudiomiro de Lima, Marina Frozi, Janieli Tontini Hermann e Darci Lourenço, houve a manifestação de que a greve não foi terminada, apenas foi suspensa, e que os servidores se manterão em “estado de greve”, podendo paralizar novamente, haja vista que as medidas adotadas são paliativas, não resolvem o problema de forma definitiva. Ressaltam que os recursos destinado pela municipalidade amenizaram e permitiram a retomada dos serviços no hospital, contudo, a folha do mês de junho deverá ser paga já na próxima segunda-feira (6). Se o governo do Estado não repassar os recursos devidos, fatalmente ocorrerá novo atraso dos salários, o que motivará o retorno à greve. A Comissão lembra ainda que não se trata só de salários, mas sim da funcionalidade como um todo, uma vez que o hospital deixando de pagar fornecedores, automaticamente não terá medicamentos, materiais para procedimentos médicos e de enfermagem, alimentos, material de limpeza e higiene, e tudo mais.

 

 

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