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A vitória de um trabalho comunitário

 

Entrevista  Engenheiro Eugênio Frizzo  –  Fundaturvo/Ceprovale

                                                                                                                   

“Duas coisas nós sonhávamos na época, tendo como eixo a agricultura, ‘queríamos ter aqui na Região o curso de agronomia como sendo a ponta dentro de um processo e uma estação da Embrapa’ para produzir e difundir tecnologias regionais”.

 

Eugênio Frizzo, engenheiro civil, liderou um grupo de voluntários na criação da Fundação Vale do Rio Turvo (Fundaturvo), tendo como meta projetos voltados para o desenvolvimento sócio/econômico/cultural local e regional. Entre outros, o grande e destacado projeto da Fundação foi a criação do CEPROVALE (Centro de Educação Profissional Vale do Rio Turvo), resultando, mais tarde, no Campus Santo Augusto, do Instituto Federal Farroupilha. Para falar sobre a Fundaturvo e Ceprovale, Eugênio Frizzo concedeu entrevista ao semanário.

 

– O Campus Santo Augusto, do Instituto Federal Farroupilha é, sem dúvida, uma instituição que orgulha a população local e regional. Agora, com a oficialização do Curso de Agronomia, a satisfação é aumentada. Sabe-se que a origem de tudo isso foi lá na FUNDATURVO, da qual o senhor era o presidente e liderou o projeto.

– Na verdade, eu como cidadão e outras pessoas da nossa cidade, sempre tivemos um olhar um pouco mais adiante do futuro da cidade. Nós trabalhamos na administração do Floris (então prefeito), momento em que Santo Augusto viveu um pouco essa visão que nós tínhamos de fazer uma parte da história e cada um fazer sua parte para um dia fazermos um município melhor, uma Região melhor, enfim, um País melhor. E essa ideia da fundação surgiu dentro dessa linha, quer dizer: “o que nós podemos fazer por Santo Augusto para que as coisas possam ser melhor aproveitadas, melhor disponibilizadas, maior entendimento e felicidade para as pessoas. E a nossa opção, na época foi trabalhar com a área da educação. Achamos que, na área da educação, as pessoas poderiam pensar, se preparar para o trabalho, participar da vida comunitária e, a partir daí, então, estariam sendo mais felizes e mais alegres aqui em Santo Augusto. A linha geral do projeto foi essa.

A partir de termos formado o grupo que participou na época, convencido de que esse era um projeto que merecia nosso trabalho, começamos a articular a buscar informações dentro do governo federal, do governo estadual, do próprio municipal das possibilidades de criarmos aqui dentro de Santo Augusto uma escola técnica voltada para os interesses de nossa Região.

Aí, entra um fator muito grande e fundamental: somos uma região que produz a parte primária de toda a cadeia alimentar, aqui não temos vocação para a indústria, somos uma região com vocação para produzir alimentos e somos muito bons na produção da primeira etapa desse processo, que é a produção primária, que é produzir bem, produzir com risco, produzir com tudo aquilo que envolve o trabalho duro do que é uma vida na agricultura, por exemplo, envolvendo leite, suínos, aves, enfim, toda essa questão. E que nós tínhamos que passar por uma segunda fase desse processo, que é a fase da indústria.

E isso é um tipo de cultura que não era da nossa Região e sabíamos que a escola poderia contribuir com isso, com essa fase. A partir daí se criou, então, a nossa fundação, através da qual fizemos os projetos para que tivesse, nessa fundação e nessa escola, o que nós chamamos na época de Ceprovale, que era o Centro de Educação Profissional do Vale do Rio Turvo, e dentro do ambiente dessa escola acontecesse a ampliação dessas discussões e a vinda de conhecimentos para Santo Augusto e Região. Tínhamos, na época, a Universidade de Ijuí, mas achávamos que merecíamos ter mais perto esse tipo de informação, para que a escola fosse, então, um vetor dessa visão do avanço das tecnologias na área da agricultura. E isso foi a visão que sustentou o projeto todo.

Lutamos dez anos para ver essa obra concretizada e, em todos os debates que tivemos em nível local, de Região, de Estado, de País, com ministros, discutimos essa questão. Diziam as autoridades lá, ministros: “mas por que vocês querem escola pra região de vocês, qual é o motivo, vocês são uma região pequena, são poucas pessoas que vão lá pra região”. E nós dizíamos: “olha, ministro, nós temos lá, são brasileiros, são trabalhadores, são gente que quer bem o País, quer o bem de suas famílias, quer o bem da Região, mas não tem acesso ao conhecimento o suficiente para fazermos essas coisas acontecerem”.

E assim se foi discutindo e se teve também o apoio dessas autoridades. Foram dez anos de trabalho, e a cada ano se fazia várias reuniões e várias viagens, de uma maneira que foi sendo construída uma espécie de escada, foi se subindo degrau por degrau até assinarmos os convênios. Isso é um trabalho de grupo, foi graças ao trabalho deste grupo que se teve a visão de que poderíamos reunir forças para vencer essa etapa na área da educação. Fizemos outros projetos também, mas eu destaco nesse momento aqui como um importantíssimo, pois se chegou à conclusão com a entrega da chave da escola, inclusive com federalização. Quero com isso dizer que todas as pessoas que trabalharam na fundação, não vamos nominar aqui, mas é um número grande de pessoas que se doaram de uma maneira livre e espontânea, apostando que era um bom projeto e que seria bom para Santo Augusto e a Região.

 

– Esse Curso de agronomia que está se concretizando agora já era previsto por vocêsno projeto inicial?

Duas coisas nós sonhávamos na época, tendo como eixo a agricultura. Queríamos ter aqui na Região o curso de agronomia como sendo a ponta dentro de um processo e uma estação da Embrapa para produzir e difundir tecnologias regionais. Combinando as coisas. Quer dizer, uma escola de agronomia, como multiplicadora dos conhecimentos e uma multiplicadora e democratizadora dos conhecimentos, chamando alunos e preparando sua inserção nesta economia, e, que retornassem a Região para aplicar os seus conhecimentos e, com isso, elevar a qualidade da nossa produção regional, tendo a Embrapa como geradora desse conhecimento, porque nós aqui não temos pesquisas feitas por organismos como a Embrapa referentes à nossa Região.

Temos vocação agrícola e, hoje, está concentrado basicamente em soja, trigo e milho, mas nós temos pelo menos mais dez culturas que podemos ter aqui na Região.

Nós temos o Vale do Rio Uruguai que é um potencial enorme para a implantação de frutas. São dez a vinte mil hectares de áreas ideais para a fruticultura. Tem espécies de frutas que são adequadas à nossa Região. E nós queríamos, na época, trazer a e fiz a parceria com a Embrapa de Pelotas, porque pensávamos “um dia, podemos trazer a Embrapa aqui para a Região” e estabelecer um centro de pesquisa para descobrir as tecnologias adequadas e trazer para a escola e fazer a difusão. Esse era o grande eixo do nosso projeto.

Foi difícil, no tempo que a escola foi inaugurada, não tinha esses cursos ainda, mas quem administrou a escola, quem tocou os projetos pra frente já cumpriu com essa missão.

Aliás, nisso eu participei do trabalho feito pelo professor Jesus, que na época era o diretor da escola, quando foram estabelecidas as grandes linhas do futuro da nossa escola de Santo Augusto. E, se for pegar o plano elaborado em 2008, lá consta que nós como uma das metas futuras tínhamos a criação do curso de agronomia aqui. Então, o Jesus foi a pessoa que colocou isso dentro do objetivo da escola e a administração que entrou na escola de lá até hoje fez a sua parte nesse processo, de maneiras que hoje a gente está muito feliz em poder ver isso acontecer, porque se cumpriu aquilo que era proposto ser feito.

Criamos as condições, e as coisas aconteceram dentro de uma linha muito favorável. Toda a caminhada da fundação foi com muito sacrifício, mas sempre vencemos os obstáculos. E isso permitiu que estregássemos em 2007 uma escola pequena, dentro dos recursos que tínhamos, mas os gestores a partir dali tiveram uma visão compatível com a grandeza do projeto e hoje temos, então, a nossa escola funcionando muito bem aqui em Santo Augusto.

 

– O trabalho da Fundaturvo encerrou-se com a federalização da escola?

– Não. Na verdade, a Fundação é uma entidade privada. Ela não tem nenhum vínculo com o Poder Público, ela é autônoma. É uma entidade formada por 25 pessoas que se reuniram e decidiram fazer esse projeto, investir nisso. E até hoje é assim: 25 pessoas. Ela existe hoje, é uma entidade que está um pouco desativada, mas existe e está plenamente regularizada. Então, foi uma iniciativa privada. E aí vem aquelas questões que eu falei: tudo aconteceu dentro de um quadro de construção, como foi a própria federalização. O processo da federalização foi um processo também que demandou uma caminhada bastante árdua, trabalhamos dois anos em cima dessa tese junto ao governo federal e conseguimos.

Até uma vez que eu estive em Brasília numa viagem que eu fiz lá, não estava incluída na minha pauta fazer uma visita ao MEC e discutir essa questão, mas, por acaso, cheguei lá no MEC, o diretor de ensino técnico do MEC estava com um grupo de trabalho discutindo a federalização. Falavam da criação de escola federal e eu entrei no grupo, defendendo o projeto de Santo Augusto. E, a partir daí, então, isso aconteceu, o que foi um fato muito bom, porque que, de um lado, atendia o que sempre reivindicávamos do governo e, de outro, porque atendia a um argumento que nós usamos muito dentro do governo federal para conseguir recursos, de que até àquela época, nunca havia ocorrido investimento do governo federal na nossa Região, tudo o que arrecadamos em tributos federais voltaram de forma indireta, mas diretamente nada retornava.

Então, isso também foi usado no dia da discussão da federalização. Faz cem anos que produzimos pro Rio Grande, pro Brasil e até hoje não tivemos nenhum investimento do governo federal diretamente, sendo essa, também, uma razão por que queremos. E assim foi indo. Finalmente deu tudo certo e isso é um dos fatores muito importantes para a nossa escola hoje ter o porte que tem. Na época, investimos um total de R$ 3.000.000,00 e hoje a escola deve ter investido, quem sabe, mais de R$ 20.000.000,00. Então, foi uma abertura que se teve lá.

E, paralelamente à questão da educação, nós começamos um programa regional de fruticultura bem arrojado também. Esse programa teve várias etapas, teve projetos, teve planejamento, teve execução de parte daquilo que foi executado até 2012. Desse tempo em diante, 2014, 2015 o projeto começou a ser desativado. São questões que não vamos entrar na discussão no momento, mas isso pode ser feito um bom debate, sobre por que isso aconteceu. E hoje, nesse período desde 2012, 2014, ainda estamos trabalhando na fundação para encerrar todos os convênios que tínhamos feito.

Tínhamos convênios com prefeituras, convênios com o governo estadual, com o governo federal, transferências de recursos. Esses convênios foram prestados contas, as contas foram discutidas, foram sendo superadas, complementadas e hoje temos a fundação plenamente com suas obrigações jurídicas concluídas. A fundação hoje não deve nada para ninguém, não deve prestação de contas. Estão todas aprovadas. Então, esse é um marco que temos nesses 21 anos do nosso trabalho. E agora, dentro dessa questão de estarmos aí fazendo um momento especial, para comemorarmos isso, temos ainda algumas ações que faremos até o final do ano.

 

– Algum projeto ousado ainda previsto?

– Não, não temos projeto previsto. O que queremos fazer agora nesse segundo semestre é um resgate dessa história toda e, para isso, vamos usar todos aqueles meios de comunicação e de informação disponível. A fundação é uma entidade comunitária, não tem renda, não tem estrutura permanente de funcionamento, então, não podemos ousar muito naquilo que a gente pensa; temos sempre que buscar parcerias naquilo que se pretende, que, aliás, sempre tivemos muito boas, ótimas parcerias. E, nesse processo que queremos fazer de resgate no segundo semestre, contamos com a parceria do Jornal O Celeiro, estive colocando todas essas questões para o diretor do jornal, o Pedro, e ele mais uma vez, fazendo justo reconhecimento, foi sempre um parceiro de primeira linha dos nossos projetos, como tantas pessoas foram.

Queremos publicar no jornal, no segundo semestre, algumas informações através de uma coluna, queremos fazer uma exposição de banners fotográficos do nosso projeto, da etapa que envolve a fundação, vamos destacar aquele trabalho que a fundação fez e faz. Basicamente a questão da escola até a federalização e depois a fruticultura até onde o projeto foi. Se der certo, lançar até o final do ano uma publicação sobre o trabalho. É um projeto que estamos fazendo. E, nesse contexto, reunir os instituidores, que são 25 pessoas, e fazer uma discussão sobre que iniciativa a fundação poderia elencar como importante, que posição a fundação vai tomar sobre os trabalhos que vem pela frente. Trabalho tem, tem espaço, tem pessoas que aceitam trabalhar, mas tudo isso tem que ser feito de comum acordo, porque é uma entidade comunitária. Então, a gente espera até o final do ano ter essa situação encaminhada e aí aquilo que o plenário decidir vai ser feito. Os sócios da fundação são autônomos para decidir sobre o futuro da fundação.

 

– Considerações finais:

– O que a gente quer aqui nesse momento em que se comemoram 21 anos, é dizer à nossa comunidade de Santo Augusto que o projeto por todos apoiado, na época do lançamento do projeto houve alguma divergência, venceu todas as etapas projetadas, com a superação de inúmeras dificuldades, e com o tempo, tudo foi vencido e deu certo. Então, lembrar a Santo Augusto e à Região que podemos ser diferentes, podemos ser melhores do que somos, o que é necessário é que as pessoas se proponham individualmente e formando grupos se lancem a projetos ousados. Na época, eu tenho certeza que muitas pessoas acharam que isso era ilusão, uns até disseram que nós éramos meio loucos, mas o interessante é que há espaço para trabalhar e a fundação, no seu tempo, ocupou esse espaço e conseguiu aquilo que foi para o bem da nossa comunidade de Santo Augusto e da Região. Então, eu quero dizer à comunidade que esteja alerta a isso, não esqueça que isso existe e, se tiverem alguma oportunidade de participar, participem, porque o diferente pode ser feito com a contribuição de todos. No mais, agradecer a oportunidade.  

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