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Não sou anjo e anjo não se elege, diz secretário Giovani Feltes a empresários

 

Durante seu discurso, expôs o histórico da dívida do Rio Grande do Sul e apresentou a proposta de repactuação junto à União, que está em votação no Senado. Segundo o governo estadual, os ajustes e cortes representarão um alívio de 4 bilhões de reais até 2018. Durante toda palestra, o secretário solicitou que a imprensa não tomasse nota quando fizesse revelações ou emitisse opiniões comprometedoras.

Nos últimos minutos da palestra e pedindo que a imprensa mantivesse sigilo, disse: “Em off, pessoal: anjo não se elege nem vereador em Carlos Barbosa. A gente tem que tirar e afastar essa hipocrisia. Eu tenho dez eleições nas costas, 12 anos de vereador, 12 anos prefeito, 12 anos deputado estadual. Desde os 18 anos e não perdi uma eleição. Em off: [o beneficiário dizia] ‘me dá uma mão para a campanha? Eu tenho R$ 5 mil, R$ 10 mil, R$ 50 mil, mas não coloca meu nome na tua prestação de conta’. Quem dizia que não? Precisa. Tinha que acabar um pouco com essa hipocrisia. Essa [última] campanha foi melhor, sim, mas ela beneficia quem é mais conhecido, já tem um certo desequilíbrio”.

Na sequência fez uma forte revelação: “Quem tem dinheiro de caixa dois que não contabiliza nunca? Jogou no bicho. Então eles podem eleger vocês; igrejas, de qualquer credo; tráfico, já pensaram nisso? Em off: em Novo Hamburgo elegeram um traficante para a Câmara de Vereadores e também conheço outras cidades que elegeram. Lá é dos Manos, mas deve ter alguém dos Bala na Cara em alguma cidade. E a gente não quer saber de política. Desculpa a provocação, mas todos temos um pouco de culpa”.

Feltes lembrou os presentes de que a culpa do endividamento recai sobre o ombro de muitos gestores. Nos últimos 45 anos, os estado ficou positivo por somente sete anos. “Isso é um problema que não vem de hoje. Há 30 anos, nossos jornais davam conta dessa realidade, portanto não estamos distantes daquilo que vivenciamos ao longo das últimas décadas. Nós encontramos, em uma história de 45 anos, desde 1971, um Rio Grande que gasta mais que arrecada, e fomos seguindo, governo após governo, e em alguns deles, gastando muito mais do que se arrecada”, disse.



A proposta de renegociação da dívida do Rio Grande do Sul prevê a redução de 20 secretarias para 17; extinção de nove fundações das atuais 19; diminuir de sete para cinco as Autarquias e de 11 para seis o número de Companhias Estaduais. Segundo Feltes, seriam economizados 130 milhões e geraria um ganho real, em 4 anos, de R$ 6,7 bilhões. O valor da dívida do Estado é de R$ 51,8 bilhões. “Hoje, não tem a menor chance de passar o conjunto das medidas, que não resolve o nosso problema, mas nos dá uma sobrevida. Nessa quarta-feira vamos novamente ter uma audiência com o Temer. Precisamos desesperadamente de uma ponte”, disse.

O que causou os picos positivos, livres da dívida, também foi um ponto explorado pelo secretário. “O que causou? Brito: não esqueçamos, nesses dois anos houve a venda da Companhia Rio-grandense de Telecomunicações (CRT) e da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). Yeda: uma parte do mérito foi pela gestão, não posso negar, mas foram vendidas as ações de 49% do Banrisul. O que empiricamente se pode observar é que quem passa em 45 anos, 38 gastando mais do que arrecada, chega um dia, cai a casa e estoura o fole da gaita”, salientou.

Feltes citou situações cumulativas e causadoras da dívida. Falou sobre a inflação que era ruim para o povo, mas não para o governo. Citou as Letras do Tesouro, uma modalidade de empréstimos em que os estados captavam dinheiro do governo federal para pagar em até 35 anos e que foi extinta em 1988. Outro fenômeno diz respeito ao chamado Caixa Único das Contas do Estado, que reunia todas as dívidas em uma. O endividamento também se deu em função de financiamentos, empréstimos e uso de depósitos judiciais não tributários. “Muitos não acreditavam no Estado do Rio Grande do Sul. Muitos ainda não acreditam. Temos que vender até o futuro para pagar o passado”, comentou. 



Posteriormente disse: “Sartori está quase pegando uma faca, indo para a praça da Matriz e se imolando, política e eleitoralmente. Alguém vai imaginar, com essa contrariedade toda, que o Sartori vá se eleger a síndico? E alguém irá duvidar da honorabilidade do José Ivo Sartori que vocês conhecem melhor do que eu? Da boa intenção, da simplicidade e do trabalho?”. 



Ao final da explanação e aberto espaço para perguntas, Feltes foi questionado pelo carteiro Pércio Rogério da Silva, que se candidatou a vereador na última eleição pelo Partido dos Trabalhadores (PT). “Por que depender sempre do capital externo? Cadê a política do governo de criar projetos? Eu defendo uma política séria onde as empresas não participem, não só pagando a campanha do político”, disse. Feltes respondeu: “Sempre vai haver um contraponto. Eu tenho dez mandados, eu disse aqui em off que não sou anjo e que anjo não se elege. Não ser anjo não significa ser honesto e nem corrupto. Assim como existe quem só trabalha e paga as contas em dia, aqui em Barbosa também deve ter o dono do bar que acalca a caneta no caderno. Como eu posso ser melhor que o povo que me elege? Aí vão lá para cima e se lambuzam? Também é verdade. Retirando esses [políticos] será que o povo ficaria imune que esses fatos não mais aconteceriam?”.  

Outros pontos da explanação de Giovani Feltes

Privatização

“Estamos tirando da lei o plebiscito, porque é o único estado em que precisa disso para aprovar a privatização de empresas, mas em off, por favor, nós vamos ter que vender os ativos. Uma CEEE precisa no mínimo 13, 14 meses. O passivo da CEEE é maior que seu ativo. E a gente acredita que ela vai se recuperar? Não vai. Lembra que a CEEE ganhou uma ação de quase R$ 3 bilhões anos atrás, pergunta onde foi parar esse dinheiro. Foi tudo para pagar o déficit e má gestão. Um cara que sobe num poste, que é um profissional e eu respeito, a média é de R$ 12 mil. Isso fica de pé? Isso não fica. Então não é quem ganha mais. Vou dar um exemplo meu: a lei me facultava ganhar um salário de secretário do estado ou como deputado federal. Eu também tenho direito de querer o melhor para mim e para os meus. É óbvio. A lei me permite.”

Aposentadorias

“A última brigadiana que se aposentou tem 39 anos de idade. Nada contra, é um direito dela e é a lei, mas isso fica de pé? Quando eu era ‘peru’, a expectativa de vida era de 50 e poucos anos e 40 anos depois a expectativa de vida aumentou para 75, 77 anos. Por isso que está estourando as previdências.”

Cortes de servidores

“Por que não pagar tudo junto? Mas e as decisões judiciais que dizem que tenho que pagar no último dia útil? Está na constituição do Estado do Rio Grande do Sul a data do pagamento dos servidores. Estou me propondo a mudar, tirar isso da constituição. Têm bloqueios que temos que nos defender de última hora. E vai que a gente dá ordem de crédito e não tem valor suficiente por [causa de] um bloqueio? Vocês já ouviram falar do crime do colarinho branco? Eu sou o secretário do tesouro, então a gente fica com o risco e o coração na mão. E como a gente está mexendo no deles, quem sabe a caneta pode pesar mais fácil. Em off, em absoluto, está bem, pessoal da imprensa? Vocês acham que é mole mexer com a Susepe? A gente vê tanta coisa errada. Quem eles cuidam? Toda a massa carcerária do Rio Grande do Sul. Ninguém controla água, luz e nada, é fácil colocar dinheiro fora, mas vai mexer para ver. Talvez só cachorro e cerca elétrica não dê conta. É um pouco mais difícil, só que isso só da para falar aqui, reservadamente. Na rua não dá. Não é um convívio assim tão fácil. Não é para menos que o Sartori tem que tomar medicação e ainda ouvir ‘caloteiro’, ‘corrupto’, ‘ladrão’ por onde passa.”

Benefícios a empresas

“Antecipação do Fundo Penitenciário Nacional (Fundopen): ei, empresas! Quem quiser antecipar o pagamento e devolver para o tesouro do estado, pessoal, devolvam, nós damos um certo deságio. Arrecadamos aí uns 270 milhões de reais. A imprensa por favor não cite esses casos mais particularizados, está bem? A Nestlé, por exemplo, colocou R$ 200 milhões porque era um bom negócio para eles. Dinheiro ruim é aquele que a gente não tem.

A GM tinha duplicata para pagar pelos incentivos que recebeu para se instalar no Rio Grande do Sul e ampliar sua fábrica, agora estamos em negociação. Amanhã tenho uma reunião reservada com a direção da GM. É um novo modelo de carro, de maior valor agregado. Pode ser feito no Rio Grande do Sul se tivermos sorte nas negociações. Não se trata de R$ 20 milhões. É bastante. Eles têm promissórias para resgatar até 2035. No ano passado vendemos para ela R$ 338 milhões do Fomentar, para eles é um bom negócio. Para nós, necessidade."

Valores estratosféricos

“O único governador que mandou para Lei de Diretrizes Orçamentária (LDO) um orçamento realista para a assembleia, desnudando isso claramente, é o atual governador José Ivo Sartori. E o custo disso é uma barbaridade. Ele disse ‘olha, nós não temos mais como pagar nossas contas’. Nos faltaria 25 bilhões de reais. São números estratosféricos que não cabe em nosso imaginário. A gente pode até imaginar. Uma sala dessas [auditório da ACI] enche com R$ 25 mil em notas de R$ 10, R$ 50 ou R$ 100? Você não consegue imaginar. Está além da conta. A folha de pagamento do Rio Grande do Sul é de R$ 60 milhões por dia, de segunda a segunda. O orçamento de Carlos Barbosa é R$ 100 milhões em um ano, portanto o orçamento todinho de um ano paga 36, 38 horas de folhas de pagamento. Pela primeira vez um governador abriu tudo isso, mesmo com os riscos que isso significa.”

Herança de Tarso

“O Tarso foi talvez o governador com mais sucesso em buscar empréstimos, foram mais de quatro bilhões que estamos pagando tudo agora. Aí deu aumento para os professores, para a segurança pública. Ninguém está discutindo se ganham muito ou pouco. Nós vamos eleger o próximo governador ou governadora em outubro de 2018 e em novembro ainda será dado um aumento concedido pelo governador Tarso.”

Os mais odiados

“O Britto está quase na ponta daqueles governadores que não saem do imaginário pessoal. O povo é radicalmente contra, quase ganha da Yeda. Só para vocês terem uma ideia de como é o imaginário popular. Quem quer mexer em uma zona de conforto e alterar a realidade do estado, nós nos ouriçamos: ‘No meu não!”. E aí o governador não se elege deputado federal, que é o caso da Yeda.”

Por Priscila Boeira – Jornal Contexto – de Carlos Barbosa/RS

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